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quarta-feira, 10 de maio de 2023

Primeira etapa cumprida

Autorização de residência, a senha 
para sentir-se em casa

5 de maio às 11h30. Esse dia ficou em modo alerta na minha agenda desde dezembro do ano passado, quando recebi o passaporte com o visto concedido pelo governo português. Dia da entrevista no CNMAI - Centro Nacional de Apoio à Integração de Migrantes. Assim como eu, pelo menos duas centenas de pessoas ao longo daquela sexta-feira ensolarada na cidade do Porto dirigiram-se ao Edifício Capitolio. Na recepção, a funcionária pública localiza meu nome, dá a senha D-34 e orienta: "olhe no segundo quadradinho no ecrã (tela em Portugal). Agora, está no D24). 


Na sala, quatro fileiras de cadeiras ocupadas por pessoas de diferentes origens acomodando cerca de 30 pessoas. Muitas vindas das ex-colônias portuguesas na África e que integram a CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. A CPLP, criada  há 27 anos em Lisboa, é constituída por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Portugal, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste e visa uma cooperação político diplomática e defesa da língua portuguesa. 

Mulheres negras jovens, alguns rapazes com turbante - e todos olhando seus celulares. Enquanto uns trocam mensagens por whats, outros ligam e conversam em voz baixa em seus idiomas. Após 45 minutos, a senha H9 é chamada. Como não responde, a funcionária da recepção sai do prédio à  procura do dono da mesma. Sem êxito. Muitos aguardam do lado de fora e aproveitam para trocar informações, sempre úteis para quem está se adaptando a um novo lugar. Na sala de espera,  o ambiente é de silêncio - seguindo orientação da placa em uma das paredes. Ao observar pessoas de diferentes origens, fico refletindo sobre o quanto muitos de nós, brasileiros, desconhecemos nossa história, Durante os anos do primeiro e segundo grau, pouco se aprofunda sobre o conhecimento de nossas origens. E quando ingressamos na universidade, conforme as carreiras escolhidas, deixamos de lado o passado, vivemos o presente e projetamos constantemente o futuro. 

E é para ter um futuro melhor, com novas perspectivas de vida para si ou para a família, que muitos migram para países em que não dominam a cultura nem o idioma. Mesmo falando português, estamos em outra casa, com outros costumes e onde somos convidados. 



Após uma hora e meia, chega minha vez. Vou à sala das senhas D-H. Ali, há cerca de 20 mesas com cadeiras para receber os entrevistados. Ao lado de cada mesa, um scanner serve para que os documentos entregues sejam arquivados digitalmente e devolvidos em seguida. Sou atendida pela jovem funcionária Valéria.  Ela comenta que o sistema está um pouco lento: "Deve ser porque é sexta-feira". Conversamos sobre tendências de as empresas diminuírem ou eliminarem  esse dia de trabalho na semana e ela sorri: "Ah, seria muito bom se isso acontecesse!".  Após verificar tudo, fazer algumas perguntas e receber a ficha ali preenchida, fazer foto digital, a biometria e assinatura digital, Valéria explica que receberei pelo correio a autorização de residência. O pagamento da taxa é feito em outra mesa e dado o recibo.

Alívio. Estou mais tranquila. Eu e minha irmã, que me acompanhou para dar fundamental apoio, saímos. O sol continua forte em plena primavera. Agora é retornar para Canidelo, em Vila Nova de Gaia. Nos próximos passos dessa jornada, estão as providências para obter o número definitivo do SNS - Sistema Nacional de Saúde, e a carteira de condução portuguesa.   

Ao dirigir para casa, fico lembrando dos meses de preparação, dos muitos documentos providenciados, das  orientações da advogada da empresa contratada para orientar o processo, do envio pelo correio de tantos papeis em um envelope enorme e, claro, das várias taxas pagas até a chegada do passaporte com o visto e o agendamento da entrevista e sorrio para mim mesma. 

Agora sim, me sinto muito mais em casa. Então, é hora de conhecer melhor cada canto desse país que tem se destacado no cenário europeu ao receber migrantes e, especialmente, nesse último ano e meio, tem abrigado milhares de ucranianos. Mas essa é outra história que logo, logo, compartilharei. 

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