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segunda-feira, 17 de abril de 2023

Saúde e bom atendimento público são fundamentais


A contínua dor nas costas indicava a necessidade de auxílio médico. Ainda sem o ‘utente’ – o número de usuário do Sistema Nacional de Saúde – a solução foi ligar para o SNS 24 horas para orientação. Após explicar que era brasileira e, por acordo entre países, tinha direito ao atendimento primário, respondi uma série de perguntas – que me lembrou o atendimento médico online nos tempos de Covid-19. 

No fim, a funcionária pública orientou a procurar o determinado centro de saúde das 20h às 23 horas, que ficava na região norte de Vila Nova de Gaia – quando poderia ser atendida por não ter o utente e não ser um atendimento emergencial.  Em seguida, recebi por mensagem no celular a confirmação do atendimento e o endereço e horário para a consulta. 

De noite, lá fui eu dirigindo nas estradas para Vilar do Andorinho – você se acostuma a considerar as estradas como avenidas de seu bairro. 

Ao chegar, entrou em ação a simpatia e descontração brasileira para ajudar no relacionamento com as pessoas. Nem sempre a recíproca existe pois percebe-se que o português é direto e objetivo – o que não quer dizer que seja ríspido. É apenas um jeito diferente do nosso. Após explicar a situação, as duas funcionárias de plantão não só me orientaram para o atendimento médico como fizeram meu cadastramento no sistema nacional e passei a ter um número provisório de utente (agora posso até fazer um seguro-saúde com valor de 4 euros ao mês). O utente definitivo será obtido depois que eu tiver o título de residência por dois anos – a ser concedido após entrevista a acontecer em breve.

Na espera pela consulta, jovens com bebês, senhoras idosas acompanhados por filhos, casais de diferentes idades. Cada um aguardando pacientemente para entrar em um dos nove consultórios médicos. Na minha vez, fui atendida pela dra. Maria, uma médica que aparentava mais de 65 anos, cuja especialidade era medicina geral e familiar. Após perguntas e exames, prescreveu os medicamentos sendo que um deles foi ministrado por injeção no ambulatório, logo após a consulta. Na saída, a funcionária administrativa informou que o boleto da taxa pertinente ao serviço seria encaminhado para minha casa para pagamento posterior.

Comparar com o Brasil é inevitável. Há o SUS – que acredito ser um dos melhores sistemas de saúde, mas subdimensionado para a população brasileira, fazendo com que a espera para exames e procedimentos médicos como cirurgias eletivas demore meses. Por outro lado, é grande a diversidade de planos de saúde – que muitas vezes se aproximam das esperas habituais do SUS. Há ainda alguns planos que foram concebidos para atender pessoas sêniores (me recuso a chamar melhor idade pois acredito que a melhor idade é aquela que envolve o estado de espírito da pessoa – há jovens que nasceram velhos e setentões que gostam da vida com maestria). 

No Brasil, eu tinha um plano de saúde sênior e a demora em atendimento ambulatorial em hospitais chegava a ser de quatro horas nos finais de semana ou feriados. Uma das vantagens do SNS em Portugal é a triagem telefônica. Se o  atendimento não é emergencial, o SNS 24 orienta os cidadãos conforme a avaliação dos sintomas descritos. Caso já tenha médico de família, tudo começa com o atendimento feito por ele em um centro social de saúde. Exames só são solicitados em caso de real necessidade para fechar um diagnóstico que não se consegue com o atendimento primário. 

Há falta de médicos de família e essa é uma pauta constante na mídia. Caso a situação da pessoa seja grave ou com risco de vida, ao ligar para o número 112, recebe a orientação dos funcionários do INEM – Instituto Nacional de Emergência Médica – que acompanham desde o local  da ocorrência até a unidade de saúde. Temos esse serviço semelhante no Brasil, mas está tudo concentrado no SUS, nas prefeituras e estados – o que gera sobrecarga do sistema. As situações são semelhantes e me fazem perguntar: será que os gestores dos dois sistemas já trocaram suas experiências para que cidadãos no Brasil e em Portugal possam ser beneficiados sempre com o melhor atendimento?

domingo, 9 de abril de 2023

Ovos pintados, tradição familiar retorna ao velho continente

Desde meados de março, imaginava os supermercados  repletos de ovos de chocolate. Entretanto, cada país tem seus costumes e tradições, e, em Portugal, se há menos ovos de chocolate, é tempo de saborear amêndoas cobertas com açúcar colorido ou com chocolate ou deliciosos bolos de frutas secas e creme.  No início da semana da Páscoa, fui fazer as compras com minha irmã Vera em um dos supermercados aqui perto de casa – depois de pesquisar os preços nos vários sites e folhetos, um costume que a gente adquire rapidinho por aqui – afinal, quem não gosta de uma promoção? 

As pessoas colocavam nos carrinhos  chocolates, doces, tortas, amêndoas coloridas, e alguns poucos ovos de chocolate. A funcionária do caixa explica que a cada ano que passa a Páscoa está mais tranquila, com menos gente e não tem tanto consumo de ovos de chocolate. Aí dá para perceber a surpresa dela ao ver os sete grandes ovos de Páscoa que compramos!  

Segundo a jornalista Pri Fortinho no site nacionalidadeportuguesa, “mesmo sem ser o centro das atenções, os portugueses consomem sim o ovo de Páscoa. Mas, não há a mesma variedade e valor agregado aos ovos de chocolate como é no Brasil. Muitas vezes, inclusive, são ovos de galinha cozidos com algum corante para ficarem coloridos, que as famílias fazem para quebrarem e comerem no almoço de domingo de Páscoa”.


Então percebo as conexões que atravessam continentes como a nossa tradição familiar da pintura de ovos na Páscoa e que existe em alguns lares de Portugal. Em casa, os ovos brancos de galinha são cozidos, e, depois de frios, nos reunimos para pintá-los. Os temas são livres e não nos atrevemos a competir com os ovos poloneses – um primor na apresentação e equilíbrio de linhas e cores – e assim  mantemos a a tradição e podemos relembrar meu pai, filho de imigrantes poloneses e nossas origens. 



Nesse ano, celebramos com parte da família – a de Annamaria e Lauro - que residem em Portugal e a sobrinha Paola, que mora em Milão e veio para a Páscoa – todas reunidas na pintura de ovos após 15 anos! No domingo, cada um escolhe de olhos fechados um dos ovos coloridos. 

Depois todos dividimos o ovo pelo número de pessoas à mesa e cada um entrega suas partes aos outros, recebendo também partes dos demais – no final da animada troca de pedaços de ovos de galinha, cada um ficará com seu ovo cozido!  E assim, a tradição familiar retorna ao continente de onde saiu há mais de 130 anos.